O Senhor Palomar não teve muito sexo na adolescência e talvez isso o tenha marcado mais do que gosta de admitir. Um pouco menos de leitura e um pouco mais de porqueira talvez tivessem reforçado alguns traços da personalidade que agora estão meio adormecidos. Daí este conservadorismo latente, esta omnipresente dúvida de saber o que é correcto e não é. Mas a fidelidade continua a ser-lhe importante. É um valor que lhe fala ao coração e as razões do coração o Senhor Palomar não contraria. É fiel. É fidelíssimo. Como um gato, como um cão. Como um cão com dono. E gosta de o ser, gostando de quem gosta como se o amanhã não viesse e esta noite tivesse que o dizer por escrito, para que talvez desta forma essa pessoa o creia.
Mas nos livros não e o Senhor Palomar não pode deixar de assinalar que essa é talvez uma das melhores características da prática da leitura. Na verdade, o Senhor Palomar está convencido que é a leitura que permite a muitos homens continuarem a deitar-se com mulheres feias e ainda assim achá-las belas. Noite após noite. A não as trocarem por mais ninguém. Para trocas, já bastam os livros, com os quais tudo é muito mais fácil e directo (mais fácil do que ter sexo, pelo menos). Se o livro não serve, volta para a estante que há logo outros que se acotovelam para serem escolhidos e que ainda por cima ficam gratos por os usarmos por umas horas - algo que, como se sabe, é impossível quando estamos a falar de uma mulher. Ai, ai, Se tudo na vida fosse tão fácil como escolher um bom livro.
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