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Dia 1 de Setembro, o Senhor Palomar muda-se de livros e bagagens para http://senhorpalomar.com/

terça-feira, 21 de julho de 2009

Carta aberta a Francisco José Viegas, com convite final em atalho de foice, ou o aproveitamento patético do Sr. Palomar de querer aparecer na foto

Meu caro Francisco José Viegas,

O Senhor Palomar é seu leitor. Desde há muito, deve confessar. Da prosa, mas também da poesia. Das crónicas, mesmo das heteronímicas; leva a sério os seus conselhos – de culinária, das cervejas, dos charutos. Habituou-se a ouvi-lo na rádio, a segui-lo na televisão, a vê-lo no Mãe D’Água, no Toscano, ou, por vezes, a altas horas, num bar ali para os lados do Príncipe Real, onde pedia o seu bife, pagava generosamente e saía bem-disposto, sempre educado (muito), tendo ainda tempo para, pelo caminho, entregar uma série de apertos de mão. A admiração, como já percebeu, é muita e em breve terá um sentido duplo. Por um lado a admiração, de respeito e afeição:
- pois alguém que em menos de um ano publica Chatwin, Leftah, Faciolince, Yates, em breve Bolaño, entre muitos outros, só pode causar esse efeito;

- alguém que tem defendido as letras num projecto como a LER, só pode ter atrás de si uma legião de fãs (leia-se: leitores gratos);

- alguém que sintetiza em meia dúzia de palavras os sentimentos profundos do que é perder um ente querido (Se me comovesse o amor como me comove / a morte dos que amei, eu viveria feliz), só pode aspirar a que se escrevam nas lápides portuguesas aqueles versos. Como se a salvação e memória perpétua do corpo que partiu, deles dependesse;

- alguém que escreveu um dos romances mais belos da língua portuguesa – e o Senhor Palomar não se refere ao premiado “Longe de Manaus” – só pode granjear bons sentimentos junto daqueles que passaram por África (e não necessariamente apenas por Lourenço Marques);

- alguém que continua a agir como pensa sem pensar como age, só pode fazer falta à cultura e à cidadania portuguesas, tão apagadas por estes dias.

***

E eis que se chega o segundo sentido da palavra admiração. Pois o texto que o Senhor Palomar alinhavou não é notável e o Senhor Palomar só pode levar a apreciação como sinal de generosidade de FJV. Aquele texto é um textículo. É uma coisa, uma coisinha amputada, à qual falta o brilho que o FJV sempre imprime aos seus textos, sendo capaz de sintetizar em meia dúzia de caracteres aquilo que a maior parte de nós levaria 3 páginas (e três horas) a escrever.

Não obstante, e mais tomado pela falta de vergonha que pela vaidade, o Senhor Palomar não pode deixar passar em claro a situação e lança-lhe um convite. Um almoço, pois claro. O meu amigo escolhe o local (para fumadores, evidentemente) e permita por favor que a factura, quando chegar, fique do lado deste seu criado.

O Senhor Palomar anda em mudanças, o Senhor Palomar tem a sua vida mais desorganizada que uma casa sem livros, pelo que pede-lhe apenas que esse evento, que ficará decerto na memória deste subscritor, ocorra para meados de Setembro ou Outubro, pois até lá o tempo escasseia – as solicitações para tomar controlo da água, da luz, do gás, do condomínio não dão espaço para falatar, quanto mais para conversar.

Com um abraço, ao seu dispor, despede-se e assina um humilde, um escravo, um nada notável,

Palomar

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