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Dia 1 de Setembro, o Senhor Palomar muda-se de livros e bagagens para http://senhorpalomar.com/

terça-feira, 4 de agosto de 2009

De como o leite estragado nos dá dores de barriga e um mau livro apenas nos ensina a ser mais criteriosos. Isso ou uma definição do amor


O Senhor Palomar recorda-se da primeira vez que lhe ofereceram um livro, mas não se recorda do momento em que o começou a ler. Sabe apenas que entre um momento e o outro, houve uma pausa, uma fase intermédia de aprendizagem e preparação, como que o avisando que dali em diante a sua vida seria diferente. Para melhor.

O Senhor Palomar sabe que sempre teve muitos livros em casa, porque era material que se comprava aos pacotes como se fosse massa ou arroz, mas não se recorda se alguma vez algum deles se estragou por falta de uso. Ainda que muitos dos livros fossem comprados com (bem) menos critério que os ditos bens essenciais. Os pais do Senhor Palomar já sabiam que este preferia um mau livro a um bom passeio. Um bom dia na praia. Um bom filme nos velhos VHS que se alugavam por 100 escudos. Por isso foram comprando livros. Um atrás do outro, formando estantes e pilhas no chão. Talvez por isso, por essa compra desenfreada para evitar comprar brinquedos (mais caros), nunca se deram ao trabalho de reflectir se dar a ler Ramalho Ortigão aos 12 e Eça aos 13 era adequado.

E ainda bem que não o fizeram, pois apesar de nessa altura o Senhor Palomar não ter conseguido ler os livros em questão, estes viriam a ser uma boa companhia anos mais tarde. Ainda bem que na altura não existia ainda Plano Nacional de Leitura, pois de outra forma seria muito popular (mas pouco maturado) dizer que o que importa é que se leia, sem olhar a quê. O que até poderá ter a sua ponta de verdade. Mas isto, apenas e só no cenário de se deixar bem claro que, por vezes, é muito bom vermos uma comédia romântica com o Tom Hanks e com a Meg Ryan. Que é confortável pensarmos que o amor é daquela forma e que no final viveremos todos juntos para sempre. No entanto, se queremos uma história de amor a sério, se nos queremos emocionar e ter a certeza que a vida é cruel e nem sempre acaba com um happy ending, então temos de ver o Casablanca. Para que nunca mais nos esqueçamos que nem Paris (ou qualquer outra cidade) nos salvará. Com um pouco de sorte, talvez um livro o faça.

3 comentários:

  1. Talvez um livro o faça, sem dúvida; mas um bom passeio é sempre preferível a um mau livro. Que o diga Aristóteles, o peripatético, e os seus discípulos; ou o senhor Kant, o tal pensador da ética, da razão e do devir, pontual nos passeios pela sua Königsberg; ou o grande Walser, e os longos momentos de não escritor, sozinho em passeios pela neve e bosques e afins; e, quem sabe, até o senhor Calvino, mascarado de Marco Polo, nas suas viagens (uma outra forma de passear) por uma Veneza permanente, disfarçada de muitas outras, invisíveis.

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  2. como por exemplo "as velas ardem até ao fim" do Sándor Márai

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