quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Aviso por causa da moral, de Álvaro de Campos (Nova Ática) - um excerto para certificar da qualidade do texto no papel descripto
«Os moços da vida das escolas intrometem-se com os escritores que não passam pela mesma razão porque se intrometem com as senhoras que passam. Se não sabem a razão antes de lha dizer, também a não saberiam depois. Se a pudessem saber, não se intrometeriam nem com as senhoras nem com os escritores.
Bolas para a gente ter que aturar isto! Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. Estudem ciências, se estudam ciências; estudem artes, se estudam artes; estudem letras, se estudam letras. Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte.
Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível.
Porque há só duas maneiras de se ter razão. Uma é calar-se, que é a que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém de mais idade a pode cometer.
Tudo mais é uma grande maçada para quem está presente por acaso. E a sociedade em que nascemos é o lugar onde mais por acaso estamos presentes.»
Diga-se que esta compilação contém ainda outros textos de leitura desenfreada. Ou leitura obrigatória, se preferirem, e como mais comummente se diz.
Retirado de Aviso por causa da moral e outros textos de intervenção, de Álvaro de Campos, Editorial Nova Ática, Fevereiro 2007.
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