Perdoe-me que a trate de igual modo, e quase intimamente, por querida, mas, seja porque a leio já há tanto tempo, ou porque não perca uma oportunidade para retribuir carinhos a pessoas de quem gosto (num gesto abusivo nem sempre apreciado), não posso deixar de aproveitar a vaga e de passar, de ora em diante, a tratá-la dessa forma.
Na sua amável carta, qual Frei Luís de Sousa, impede-me de responder aquilo que desejaria. Ninguém. E apenas e só por isso, num gesto que não pretendo repetir, dir-lhe-ei algo mais. Digo-lhe que o Senhor Palomar não viveu sempre rodeado de livros. Tempos houve em que havia mais jornais pela casa que livros. Revistas como a VISÃO, à qual a minha querida Sara se juntou em boa hora. Numa frase, a leitura começou pelos periódicos, a verdade é essa. De notícia em notícia, o Senhor Palomar habituou-se ao convívio da palavra escrita. Só na adolescência despertou para os livros e folheou finalmente as obras que plastificavam as estantes da casa (sim, éramos clientes do Círculo de Leitores).
O Senhor Palomar não é escritor. Tão pouco se definirá como jornalista, apesar de produzir aquilo a que hoje se chama “conteúdos”. O Senhor Palomar é um leitor. O Senhor Palomar, por tanto gostar de livros, tentou que a sua actividade profissional andasse à volta das letras. Para que, como Confúcio aconselhou, não tivesse de trabalhar mais um só dia até ao resto da vida.
O Senhor Palomar gosta do céu, é verdade. E do mar. Mas antes que passe por snob por citar mais um autor na mesma missiva (Deus ao mar o perigo e o abismo deu/ Mas nele é que espelhou o céu), dirá apenas que se vai retirar uma vez mais e não avançar qualquer outra informação.
Esperando que esta missiva não a moleste ou a agrave, sugerindo uma qualquer covardia que não perfilo,
Seu,
Palomar
PS: Vil, no mínimo, que comparem as minhas palavras à sua prosa. Imperdoável.
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