Pedro Sena-Lino tem já uma obra poética com «mais de 7 volumes», conforme se lê na badana do livro. Director da Companhia do Eu, dirige uma série de cursos de escrita criativa, tendo dois livros do género publicados pela Porto Editora. 333 é o seu romance de estreia, o que não deixa de ser uma aparente contradição, já que o autor ensina e disserta sobre uma disciplina sobre a qual não tem matéria publicada.
Porém, esse preconceito é desmistificado logo nas primeiras páginas: Pedro Sena-Lino conduz com agilidade um romance com pouco mais de 150 páginas e com mais de uma centena de personagens metidas ao barulho. Algumas reais, outras nem tanto: na verdade, e na maior parte, nem tanto.
O ritmo da narrativa é vertiginoso, apenas comparado ao igualmente rápido processo de destruição e desaparecimento dos 333 exemplares da obra de Soror Flâmula levados a imprimir pelo mestre-impressor Darius Waerminger, por alturas de Mil e Quinhentos. Através da revelação de algumas das páginas dessa suposta obra, temos acesso a um texto de forte tensão erótica que abre caminho para algumas das escritoras que Pedro Sena-Lino estuda enquanto investigador para efeitos de doutoramento – autoras essas que, diga-se, ainda hoje escandalizariam muitas das plácidas almas do nosso século.
Difícil de classificar (oscilando entre o romance – histórico mas não muito – a micro-ficção e o relato simples quase jornalístico), o romance de Pedro Sena-Lino é sincero nos seus intentos e propõem-se a contar uma história. Várias histórias. 333, para ser mais preciso. Tantas quantas as interpretações que um livro tem a capacidade de dar a conhecer a um leitor.
Nos agradecimentos, o autor não deixa de referir uma série de amigos, leitores muitos deles, assim como a equipa da divisão literária do Porto da editora: Cláudia Gomes, Mónica Magalhães e Rui Couceiro. Subentende-se que terão sido parte importante na elaboração criativa do livro. A ser assim, estão todos de parabéns.
Pedro Sena-Lino [2009]. 333, Porto Editora, 2009. 184 páginas.
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